
Nicarágua
Nos anos 70, a Organização Pan-Americana da Saúde
(Opas) era dominada por um pensamento técnico. Mas havia
um grupo com uma visão bem diferente, cuja principal liderança
era o médico e sociólogo argentino Juan César
García. Marxista de carteirinha, García utilizava
o espaço da Opas para estimular a criação de
mestrados em medicina social, divulgar bibliografias, difundir essa
nova abordagem da saúde e incentivar o seu desenvolvimento
na América Latina.
Sergio Arouca, adepto dessa corrente, encontrou García pela
primeira vez na década de 70, quando ainda era professor
da Universidade de Campinas (Unicamp). A princípio, seu olhar
era de desconfiança, pois ele achava instituições
como a Opas burocráticas demais. Mas logo eles identificaram
suas afinidades de pensamento e surgiu uma amizade entre ambos.
Em 1980, o médico argentino vem ao Brasil e convida Arouca
para ir trabalhar na Nicarágua como consultor temporário
da Organização Pan-Americana da Saúde. Arouca
nunca teve entre seus interesses ir para a Organização
Mundial da Saúde, ou fazer carreira internacional. Para ele,
isso era como se seu pensamento fosse passar por um esterilizador.
Mas, naquela época, a Nicarágua passava por grandes
transformações e García havia levado para ele
a oportunidade de vivenciar essas mudanças.
Em 19 de junho de 1979, houve a tomada do poder na Nicarágua
pela Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN),
que derrotara a ditadura Somoza. A revolução sandinista
é considerada a última revolta popular armada a derrotar
um governo títere do imperialismo naquele milênio.
Havia uma grande euforia no sentido de ajudar o país a levar
adiante seus projetos. Em questão de três meses depois
do convite, Arouca embarcou para lá.
Na Nicarágua, Arouca trabalhou na Divisão de Planejamento
do Ministério da Saúde como assessor/consultor internacional.
Nesse período iniciou seus laços com o sistema de
saúde cubano, assessorando tanto na formação
de recursos humanos quanto no desenvolvimento de programas assistenciais.
Apesar das restrições do cargo, seu jeito carismático
conquistou logo a equipe com a qual trabalhava. Ele estabeleceu
relações de amizade e ajudou na elaboração
do Plano Nacional de Saúde daquele país em 1981.
No ano seguinte, começou o desenvolvimento e a elaboração
desse plano. Apesar da vontade de ficar e se envolver nas questões
locais, Arouca sentia que era hora de retornar ao país, para
não perder o bonde da história e os acontecimentos
que também estavam em processo de transformação
no Brasil. Voltou em setembro de 1982.
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