A tentativa de criar uma Frente Parlamentar Contra a Violência
Durante os dois mandatos de Sergio Arouca na Câmara dos Deputados, episódios marcantes de violência ocorreram no país: a chacina da Candelária, o massacre do Carandiru e a chacina de Vigário Geral são apenas alguns exemplos de uma situação de conflito que saía do controle nas grandes cidades. Como Arouca definia, estava instaurada uma “epidemia de violência”, que inclusive envolvia o abuso de poder de policiais. Partidário de uma abordagem social da violência, Arouca a considerava não só conseqüência de um processo de desigualdade e exclusão, mas um inviabilizador da dignidade e do exercício da cidadania. “A exclusão é resultado de um regime econômico perverso que está criando, como na ditadura, um sistema político de exclusão”, defendia.
O assassinato de Jorge Careli foi o ponto definitivo para que Arouca colocasse a violência na pauta de discussões do Parlamento. Careli era funcionário da Fundação Oswaldo Cruz, instituição que Arouca presidira, e desapareceu em agosto de 1993 depois da invasão da favela onde morava pelo esquadrão anti-seqüestro (DAS) da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Na última vez em que foi visto, telefonava de um orelhão para a namorada após deixar o trabalho. Alegando a existência de uma situação insustentável na qual os traficantes estavam melhor armados do que a polícia, colocando em risco as instituições democráticas e a própria vida dos cidadãos, Arouca propôs a criação de uma Frente Parlamentar Contra a Violência. No entanto, a iniciativa que pretendia, de forma visionária, a solução para um problema que persiste em todo o país, não encontrou apoio entre os pares políticos.
“Não podemos perder a capacidade de ficar indignados, não podemos banalizar a violência”, Arouca afirmava, resignado. “A sociedade brasileira está paralisada, convivendo com a banalização da violência.” Consciente de que a luta contra a violência se faz no campo social, com emprego, educação e saúde, o deputado combatia a exclusão social que impede o exercício da natureza humana. “Vivemos um regime democrático, não temos dúvidas, mas é um regime democrático no qual se pratica o totalitarismo, o fenômeno totalitário do impedimento completo do exercício da natureza humana, da dignidade humana. Estamos transformando em bandidos milhões de brasileiros que não conseguem ter cidadania política, a não ser quando são presos, porque nem conseguem ser trabalhadores, e só exercem sua natureza humana na sobrevivência biológica.”